IRVIN D. YALOM
Substituindo uma outra referência
a este autor, agora sim, justifico o motivo pelo qual é um dos autores que aqui
incluo. Realço dois contributos de Irvin D. Yalom: (1) A
relevância que dá à nossa percepção de que somos seres mortais e sua
contribuição para diversos desassossegos psicológicos; (2) O despudor em expor-se
e colocar-se, a si ou aos terapeutas personagens dos seus romances, em
circunstâncias menos clássicas durante o desenrolar do compromisso terapêutico
entre psicoterapeuta e paciente, rumo ao equilíbrio psíquico de quem procura a
sua ajuda.*
“De Olhos Fixos no Sol” de 2008
(em Portugal: 2008 Edições Saída de Emergência), um seu livro dedicado ao medo da
morte, começa da seguinte forma:
«Este
livro não é, nem nunca poderá ser, um conjunto de pensamentos sobre a morte,
porque durante milénios todos os escritores sérios já abordaram a mortalidade humana.
Em
vez disso é um livro profundamente pessoal, resultado dos meus confrontos com a
morte. Partilho o medo da morte com cada ser humano e acredito que ela é a
sombra da qual nunca nos poderemos separar. Estas páginas contam o que aprendi
sobre como é possível ultrapassar o terror da morte, a partir das minhas
próprias experiências, do trabalho com os meus pacientes e com os pensamentos
daqueles escritores que complementam o meu trabalho. (…)»
“A Psicologia do Amor” de 1989
(em Portugal: 2011 Edições Saída de Emergência) é uma colectânea de dez
histórias psicoterapêuticas, e descreve-se assim:
«Estas
são histórias verídicas, mas tive de fazer bastantes alterações para proteger a
identidade dos pacientes. Em muitos casos, incluí substitutos simbolicamente
equivalentes para determinados aspectos da identidade e das circunstâncias de
vida de certo paciente; noutros enxertei aspectos da identidade de outros
pacientes no protagonista. Em vários casos, os diálogos ficcionados e as minhas
reflexões pessoais são post hoc. Os disfarces escolhidos são densos e as únicas
pessoas que conseguirão ver quem está por detrás da máscara são os pacientes em
causa. Qualquer leitor que julgue reconhecer um dos dez protagonistas estará,
com toda a certeza, enganado.
(…) Embora nestas dez histórias de
psicoterapia as palavras «paciente» e «terapeuta» se repitam muitas vezes, que
o leitor não se deixe iludir por esses termos: estas são histórias sobre todos
os homens e todas as mulheres. Todos nós padecemos destes problemas; o rótulo
de paciente é essencialmente arbitrário e, muitas vezes, depende mais de
factores culturais, educacionais e económicos do que da gravidade da patologia.
Visto que os terapeutas, assim como os pacientes, têm de enfrentar os mesmos
dados adquiridos da existência, a atitude profissional pautada pela
objectividade desinteressada que se impõe na aplicação de métodos científicos
não se coaduna com a terapia. Nós, psicoterapeutas, não podemos simplesmente
estalar a língua, comiserando, e exortar os pacientes para que enfrentem com
determinação os seus problemas. Pelo contrário, devemos falar de nós próprios e
dos nossos problemas, pois a nossa vida, a nossa existência, estará sempre
ligada à morte, o amor ligado à perda, a liberdade ao medo e o crescimento à
separação. Nós, todos nós, estamos nisto juntos.»
* Tenho de acrescentar que este autor foi-me inicialmente referido por uma paciente, antes mesmo de eu conhecer o seu trabalho.
*
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