28/02/13

António Coimbra de Matos


Descobri este fantástico autor há uns bons anos, através dos seus textos, que são muitos - atualmente compilados pela editora Climepsi.  Também foi meu professor numa das cadeiras da licenciatura e noutras formações que frequentei. O que mais me encantou foi a sua escrita. Uma escrita de uma expressividade que nos marca. É um poeta. Este meu encantamento vem sendo partilhado por várias gerações de profissionais.

Gosto de António Coimbra de Matos, muito, pela emoção que encontramos na sua escrita. Porque expressa de forma simples e viva aquilo que nos vai na alma. Pela proximidade para com as pessoas reais que a sua escrita revela.  Pela forma rica como descreve a sua experiência e reflexões. Pela paixão e simplicidade como vem dedicando a sua vida à Psicanálise, Psicologia, Psicossomática, ao Ensino, à Depressão. Porque não fica preso a pré-conceitos teóricos. Porque está em constante evolução. Porque o que ele expressa, faz, inúmeras vezes, muito sentido. Porque tenho aprendido imenso com ele. Pela incontornável contribuição da sua obra e ensinamentos para a Psicanálise e Psicologia em Portugal. Porque inúmeras vezes quando o leio, penso “É isto. É mesmo isto!” Haveria tantos trechos a incluir… enfim… fica só uma amostra (por muito extensa que possa parecer):

 

«Nascemos de um sonho, vivemos no sonho, morremos quando o sonho acaba. E a cura analítica, não é mais que a abertura ao sonho; acaba quando o paciente sabe sonhar. Dirão os pragmáticos: isso não é uma cura. Pois não; é uma abertura à vida. Mas é, realmente, do que o doente precisa.» (1)

 

«O essencial, na cura psicanalítica, é o desenvolvimento de um novo tipo de relação do analisando com o mundo, uma nova – e diferente – relação, um novo estilo relacional: feito de confiança, afecto positivo, colaboração e esperança; o estabelecimento de uma relação interpessoal e intersubjectiva sanígena e desenvolutiva, uma relação em que o sujeito (o analisando) se sinta reconhecido, valorizado, desejado e amado – única relação que restaura a auto-estima, dissolve a culpabilidade, diminui o medo, levanta o ânimo e promove o entusiasmo. É nessa diferença – a diferença redentora – que assenta a psicanálise actual. É esta diferença a diferença fundamental da psicanálise clássica, a diferença que faz a diferença: de uma teoria e técnica, a tradicional – baseada na regressão e na transferência, numa nova dependência e nova doutrinação-domesticação – para uma teoria e técnica, a contemporânea – fundada na recuperação da liberdade e empoderamento dos direitos pessoais e conduzindo à progressão desenvolvimentista da mente e da relação com os outros. Onde se fixava a dependência e a adesão a uma doutrina, liberta-se a criatividade e o talento para uma vida mais feliz, produtiva e solidária.

A dependência fideliza os clientes – é boa para a empresa. A promoção da liberdade faz crescer as pessoas – é boa para elas.» (2)

            «O verdadeiro Professor não faz escola; ou seja, não tem repetidores ou simples continuadores. O professor autêntico impulsiona a criatividade dos alunos, de modo qua cada um se torna um pensador e investigador autónomo, criando a sua própria escola. Por outras palavras: cada discípulo identifica-se a um mestre que não teve qualquer necessidade de identificação reverencial; isto é, identifica-se a um livre pensador.» (3)

 
(1) António Coimbra de Matos, 2000. «Esquizoidia e Doença Psicossomática: Conservação de Energia e Inibição da Acção» in Mais Amor Menos Doença, 2003. Lisboa, Climepsi Editores.

 

(2) António Coimbra de Matos, 2011, «A Diferença», in Relação de Qualidade: penso em ti., Lisboa, Climepsi Editores.

 

(3) António Coimbra de Matos (2006) «Retomar o Desenvolvimento Suspenso» in Vária: Existo Porque Fui Amado, 2007. Lisboa, Climepsi Editores.

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