Descobri
este fantástico autor há uns bons anos, através dos seus textos, que são muitos
- atualmente compilados pela editora Climepsi.
Também foi meu professor numa das cadeiras da licenciatura e noutras
formações que frequentei. O que mais me encantou foi a sua escrita. Uma escrita
de uma expressividade que nos marca. É um poeta. Este meu encantamento vem
sendo partilhado por várias gerações de profissionais.
Gosto
de António Coimbra de Matos, muito, pela emoção que encontramos na sua escrita.
Porque expressa de forma simples e viva aquilo que nos vai na alma. Pela
proximidade para com as pessoas reais que a sua escrita revela. Pela forma rica como descreve a sua
experiência e reflexões. Pela paixão e simplicidade como vem dedicando a sua
vida à Psicanálise, Psicologia, Psicossomática, ao Ensino, à Depressão. Porque
não fica preso a pré-conceitos teóricos. Porque está em constante evolução.
Porque o que ele expressa, faz, inúmeras vezes, muito sentido. Porque tenho
aprendido imenso com ele. Pela incontornável contribuição da sua obra e ensinamentos
para a Psicanálise e Psicologia em Portugal. Porque inúmeras vezes quando o
leio, penso “É isto. É mesmo isto!” Haveria tantos trechos a incluir… enfim…
fica só uma amostra (por muito extensa que possa parecer):
«Nascemos de um sonho, vivemos no
sonho, morremos quando o sonho acaba. E a cura analítica, não é mais que a
abertura ao sonho; acaba quando o paciente sabe sonhar. Dirão os pragmáticos:
isso não é uma cura. Pois não; é uma abertura à vida. Mas é, realmente, do que
o doente precisa.» (1)
«O essencial, na cura psicanalítica,
é o desenvolvimento de um novo tipo de relação do analisando com o mundo, uma
nova – e diferente – relação, um novo estilo relacional: feito de confiança,
afecto positivo, colaboração e esperança; o estabelecimento de uma relação
interpessoal e intersubjectiva sanígena e desenvolutiva, uma relação em que o
sujeito (o analisando) se sinta reconhecido, valorizado, desejado e amado –
única relação que restaura a auto-estima, dissolve a culpabilidade, diminui o
medo, levanta o ânimo e promove o entusiasmo. É nessa diferença – a diferença
redentora – que assenta a psicanálise actual. É esta diferença a diferença
fundamental da psicanálise clássica, a diferença que faz a diferença: de uma
teoria e técnica, a tradicional – baseada na regressão e na transferência, numa
nova dependência e nova doutrinação-domesticação – para uma teoria e técnica, a
contemporânea – fundada na recuperação da liberdade e empoderamento dos
direitos pessoais e conduzindo à progressão desenvolvimentista da mente e da
relação com os outros. Onde se fixava a dependência e a adesão a uma doutrina,
liberta-se a criatividade e o talento para uma vida mais feliz, produtiva e
solidária.
A
dependência fideliza os clientes – é boa para a empresa. A promoção da
liberdade faz crescer as pessoas – é boa para elas.» (2)
«O
verdadeiro Professor não faz escola; ou seja, não tem repetidores ou simples
continuadores. O professor autêntico impulsiona a criatividade dos alunos, de
modo qua cada um se torna um pensador e investigador autónomo, criando a sua
própria escola. Por outras palavras: cada discípulo identifica-se a um mestre
que não teve qualquer necessidade de identificação reverencial; isto é,
identifica-se a um livre pensador.» (3)
(1) António Coimbra de
Matos, 2000. «Esquizoidia e Doença Psicossomática: Conservação de Energia e
Inibição da Acção» in Mais Amor Menos Doença, 2003. Lisboa, Climepsi Editores.
(2) António Coimbra de
Matos, 2011, «A Diferença», in Relação de Qualidade: penso em ti., Lisboa,
Climepsi Editores.
(3) António Coimbra de
Matos (2006) «Retomar o Desenvolvimento Suspenso» in Vária: Existo Porque Fui
Amado, 2007. Lisboa, Climepsi Editores.
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